Assédios no metrô do Recife são diários e ignorados

Caso de ontem ocorreu na bilheteria da Estação Central. Vítima acionou a segurança do local. Foto: Arthur de Souza

Apesar de frequentes, casos não são levados às autoridades. Mulheres têm medo e não acreditam na punição

Segundo os usuários do metrô do Recife, o assédio sexual é frequente. Mas poucas vezes um caso é levado para as autoridades. Na última quarta-feira (26), uma adolescente relatou que um homem de 42 anos a abordou ainda na fila da bilheteria da Estação Central, encostando o rosto no corpo dela. Quando ela tentou se desvencilhar, foi agredida verbalmente. O homem, que já tem três passagens pela polícia, foi levado à Delegacia de Crimes Contra o Menor, no Centro, e pode responder por importunação ofensiva ao pudor.

De acordo com o inspetor da Polícia Ferroviária Federal, Genvis Sales, a menina estava com uma prima, também adolescente, e uma responsável. “A acusação delas é de que ele cheirava as costas dela. Ela gritou pela segurança do metrô, que o deteve e nos chamou. O caso é extremamente comum, mas quase ninguém leva o caso à delegacia por medo do agressor.”

A PFF já pediu imagens das câmeras que focam a bilheteria da Estação. “Ainda hoje (na última quarta) uma senhora desceu na Estação Joana Bezerra com a filha de 15 anos. Ele tinha roçado o corpo contra o dela, mas as duas decidiram não prestar queixa, com medo do agressor. É assim em 90% das vezes.”

De acordo com a delegada da mulher de Santo Amaro, Ana Elisa Sobreira, o caso, realmente, não é frequentemente levado às autoridades. O fato é, na opinião dela, um sério problema. “A primeira questão é que a polícia deixa de ter uma real noção do que acontece, já que as pessoas não apresentam queixa, e isso dificulta as providências. A segunda é que, na certeza da impunidade, o agressor acaba cometendo a importunação ofensiva ao pudor novamente”, comentou Sobreira. “Se as pessoas denunciassem, quem vai com essa intenção ao metrô pensaria duas vezes.”

Para usuárias como Juliana Marques, 25, a impunidade é certa mesmo que o caso vá até à delegacia. “É comum ‘resolver’ ali mesmo, na hora, expondo o tarado, mesmo que se saiba que isso não é o suficiente. Acho que a polícia não leva a sério. No ano passado, uma moça foi abusada por uma semana e, quando pediu ajuda, o agressor foi levado até à delegacia e liberado”, opinou.

No caso citado por ela, ocorrido em setembro, o delegado da Central de Flagrantes foi afastado por liberar um suspeito de estuprar uma universitária. A responsabilidade pela ocorrência passou justamente para a delegada Sobreira, que investigou o caso e o indiciou no artigo 213 do Código Penal, referente a constranger alguém mediante violência ao praticar ato libidinoso.

Vagão Rosa
Em janeiro, o Metrô do Recife adotou um vagão exclusivo para mulheres nos horários de pico. O Vagão Rosa divide opiniões. Algumas pessoas percebem a política como um atestado de incapacidade da sociedade em garantir o direito das mulheres. Outras, comemoram a segurança.

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