Depressão está entre maiores causas de ausência do trabalho no AM

INSS aponta alta local de 30%, frente à taxa de 4% no País.


Por Laís Motta | D24am.com

Manaus - Desânimo, ansiedade, falta ao trabalho, dificuldade de concentração e irritabilidade parecem características de um indivíduo que passa por uma simples fase ruim, mas podem indicar um quadro de depressão. Dados do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) dão o alerta: esse transtorno comportamental é um dos principais motivos de afastamento do trabalho no Amazonas. No último ano, houve um aumento de 30,8% nos casos, uma evolução bem acima da média nacional, de 4%.

Dentre as causas da depressão, o estresse mal direcionado e mal conduzido é a causa maior dos transtornos psíquicos, na avaliação do psiquiatra e psicoterapeuta Raimundo Giffoni. Estudos revelam que 80% das causas são de fundo social. “Cada angústia não resolvida vai se avolumando. Chega um momento que nem um vulcão, uma panela de pressão sem saída, explode”, afirma Giffoni.

Problemas do dia a dia envolvendo questões familiares, relacionamentos amorosos e problemas financeiros são outras circunstâncias que aumentam as oportunidades de uma pessoa vir a desenvolver a depressão. Além das causas sociais, há as genéticas, inclusive as alterações hormonais e tensionais que o ser humano sofre conforme evolui.

A depressão, que traz desânimo, pensamentos negativistas, perda de interesse por coisas que eram importantes, de apetite e isolamento social, traz sintomas psicossomáticos como dores de cabeça, tontura, taquicardia, alteração da tensão arterial, dormência e formigamentos, destaca Giffoni. Alguns problemas físicos, que não estão associados ao transtorno psíquico, aumentam a dificuldade do paciente, como dores nas costas.

As tensões e ansiedades não tratadas acabam influenciando no desempenho do indivíduo no trabalho. Começam as faltas, as dificuldades de concentração e de cumprir com as atividades competentes. Em muitos casos, o trabalhador não consegue se relacionar bem com os colegas, já que há mudança de humor.

Com um histórico de problemas familiares e financeiros, a confeiteira de um hotel da cidade, Genilda Marinho, começou a ter o desempenho no emprego atrapalhado pela constante ansiedade. “Eu não conseguia conviver, me concentrar, assinei duas advertências e uma vez esqueci o fogo ligado”, conta. A confeiteira sofreu com algumas brincadeiras entre os conhecidos. “Eu era taxada como doida”, disse.

Os problemas acabaram resultando em uma pangastrite, doença que aumenta a produção de suco gástrico e ataca o esôfago da confeiteira, causando queimaduras internas. O estado ficou tão grave que a confeiteira ficou 45 dias em coma na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI), ao fazer uma endoscopia. Genilda perdeu 21 quilos e sofreu com queda de cabelo. A perda do irmão também contribuiu.

Recebendo auxílio-doença de R$ 702 há dois anos, Genilda ainda não está pronta a voltar ao trabalho. O atestado emitido pelo psiquiatra da confeiteira, em janeiro deste ano, afirma que a confeiteira está impossibilitada de exercer suas atividades “Tem dias que acordo bem, brincando. Mas tem dias que nem tomar banho eu quero”, conta.

O INSS negou o pedido de renovação do auxílio, alegando que a trabalhadora tem condições de retorno ao trabalho, mesmo com o laudo do psiquiatra informando o contrário. “O perito disse que eu tenho que ocupar minha mente, procurar trabalhar porque a depressão é a doença do século”, conta Genilda. Há dois meses sem o benefício, a confeiteira espera que uma nova perícia comprove a incapacidade laboral.

Segundo o chefe do setor de peritos do INSS no Amazonas, Leandro Meireles, os profissionais utilizam o laudo dos psiquiatras na análise da concessão do benefício, observando os dados sobre diagnóstico e tratamento.

“Usamos para definir a necessidade de afastamento”, afirma Meireles, reforçando que não há tempo mínimo e máximo para o benefício. O tempo de afastamento é dado em cada caso.

O primeiro motivo de afastamento é a dedicação ao tratamento. Em ambientes de trabalho, o paciente sofre muitas vezes discriminação, de acordo com Giffoni. “Ele é chamado de relapso, de burro, de preguiçoso, quando é uma doença. É uma maneira de proteger o paciente dele mesmo e da pressão”, explica o psiquiatra.

O afastamento é ainda uma forma de proteger as instituições de uma pessoa que não tem condições de trabalhar corretamente e não prestar um bom serviço. Segundo Giffoni, as depressões leves têm afastamento de 15 dias a um mês. Já as moderadas levam de dois a três meses, enquanto as graves podem chegar a um ano.

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