Assédio moral transforma atividade profissional em tortura

Por Evandro Enoshita - Agência Bom Dia

Com medo de represálias, a secretária Joana (nome fictício), 39 anos, moradora  de Santo André, prefere não revelar o nome verdadeiro.

Ela trabalhou durante uma década em uma editora. Mas foi no último ano na empresa, quando se tornou assistente do dono da firma, que o inferno profissional começou.

 “Todos os dias ele me xingava, gritava comigo. Vivia questionando minha inteligência e me chamando de deficiente mental. E isso não era só no horário de trabalho. Ele me ligava à noite, e até de madrugada para fazer isso”, destacou.

O resultado dessas ofensas constantes: a sensação de pânico. “Eu chegava em casa e começava a chorar. Na hora de ir ao trabalho, eu estacionava o carro na rua e ficava parada por vinte, trinta minutos,  pensando se eu devia mesmo ir para a empresa. Tinha um medo muito grande de errar e ele descontar em mim”, disse.

Capacidade: O episódio aconteceu há três anos. Joana atualmente trabalha em outra empresa. Durante muito tempo, porém, ela chegou a questionar a sua capacidade de conseguir outro emprego.

“Em uma ocasião, eu estava com toda a minha família, e ele berrava comigo ao telefone. Essa foi a gota d’água. No dia seguinte pedi demissão. Mas eu achava que, pelo fato dele ser influente, eu não iria conseguir outro emprego”, afirmou.

Contudo, dois meses depois de  pedir demissão, ela conseguiu voltar ao mercado de trabalho. Retornou à empresa que abandonou ao receber a proposta de trabalho da editora. Atualmente, ela não se arrepende da decisão tomada, mas ainda guarda traumas da experiência de assédio moral.

“Eu tinha um rádio da empresa, para que o meu chefe pudesse me localizar quando ele quisesse. Desde então não posso escutar o sinal de alerta do rádio que já lembro daquilo tudo, de todas aquelas ofensas”, completou.

Dinheiro: Além da possível dificuldade de arranjar um novo trabalho, Joana destacou que a questão financeira foi outro fator que a fez aceitar os 12 meses de humilhações .

“Na época, o meu marido trabalhava em uma empresa pequena. Ele vivia dizendo para largar o emprego, mas eu sabia que, sozinho, ele não ia ter como pagar as contas. No final, acabei saindo da firma mesmo assim. Agora acredito que a questão financeira não pode ser uma justificativa para aceitar o assédio ”, afirmou a secretária.
 
De ofensas verbais a humilhações públicas dentro e fora da empresa

Segundo a psicóloga Joyce Roberta dos Santos, a necessidade de impor sua autoridade é um dos fatores que podem transformar um chefe em carrasco.

“É comum que o chefe não saiba lidar com outras pessoas, e cometa assédio moral como uma tentativa de impor a sua autoridade pelo medo. Isso pode ser agravado ainda se ele tiver distúrbios de personalidade”, afirmou.

O resultado dessa atitude, porém, ultrapassa os limites da empresa. “É muito comum que as pessoas relatem casos de assédio moral em experiências profissionais anteriores, mas são poucos os que buscam uma ajuda profissional para lidar com o trauma”, completou.

Cobranças: Já para os advogados trabalhistas entrevistados pelo BOM DIA, é a cobrança por resultados financeiros que estimula a prática de assédio moral dentro do ambiente de trabalho.

“O assédio acontece quando o empregado é submetido de forma repetida a situações constrangedoras. Isso costuma ser muito comum no setor de vendas, em que a busca do lucro sacrifica o bem-estar do funcionário”, ressaltou o presidente da comissão de direito trabalhista da OAB/SP (Ordem dos Advogados do Brasil), Eli Alves da Silva.

 Opinião semelhante a da advogada trabalhista Gláucia Massoni. “Muitas vezes acontece uma cobrança em cadeia.  Já ví casos em que o funcionário teve que trabalhar vestido de palhaço por não atingir a meta”, afirmou.

testemunha /A advogada, porém, alerta que uma denúncia de assédio moral pede a existência de diversas provas.

“Tem sido muito comum as pessoas entrarem com ações trabalhistas  sem ter provas. Uma testemunha, ou gravações de vídeo podem ser utilizadas  para provar a denúncia”, completou Gláucia.

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