Metas abusivas e assédio moral resultam em doenças psicológicas no trabalho

Lá pelos idos de 1925, o grande poeta mineiro Murilo Mendes trabalhava como bancário no Rio. Irônico, ele expressou as tristezas dessa sua condição no poema  “Modinha do trabalhador em banco”, no qual diz que se sentia “quase tão triste como um homem de costeletas” e com “tantas meninas no mundo”, passava o tempo “alinhando no papel as fortunas dos outros”. Era o seu maior sofrimento.

Nos cinquenta anos depois dessa fase tão deplorável, Murilo Mendes se destacou como um dos principais poetas brasileiros e passou grande parte de sua vida em Roma, voltando ao Brasil para morrer em 1975.

Eram flores

No último dia 10, lembrou-se o Dia Mundial da Saúde Mental e ao analisar o trabalho bancário como produtor de sofrimento psicológico, em entrevista à Folha Bancária (SP), a psicóloga e professora paulista Renata Paparelli indica que o sofrer do poeta, em 1925, eram flores, diante do que se vive hoje nos bancos.

Para ela, o trabalho bancário se transformou em fator de risco. Além de penar, o bancário nada pode fazer para que seus limites subjetivos (o quanto o trabalhador suporta suas tarefas) sejam respeitados. Quem trabalha em banco é refém das metas abusivas.

Era da crueldade

Paparelli alinha aos antigos fatores de desgaste à saúde relacionada ao trabalho, novos contextos de adoecimento. O sistema trata de mascarar, nesses novos contextos, as estruturas de poder que impedem o trabalhador de preservar seus próprios limites subjetivos, intensificando a exploração da força de trabalho. Artifícios da flexibilização (teoria da “toyotização”) criaram nomenclaturas diferentes para aspectos do trabalho: trabalhador passa a ser “colaborador” e patrão ou gerente, agora é “líder”.

Os problemas denunciados dia após dia ao Sindicato levam ao entendimento da farsa embutida nessa mudança de nomes. A teoria da “toyotização” elimina o aspecto ideológico da exploração do homem pelo homem, induzindo o colaborador a não se opor ao líder, em termos de classe social. Seu papel é produzir, superando as expectativas desse líder. Assim, estará configurando sua qualidade produtiva, que é, enfim, o objetivo do sistema.

“Por tudo que os bancários enfrentam na relação com o sistema, vemos que hoje em dia o poeta sofreria muito mais ao falar de assédio moral, metas abusivas, perseguições de chefias e outras mazelas. Temos muito que lutar para mudar esse quadro”, disse o diretor-executivo da Secretaria de Saúde Gilberto Leal.


Fusões e privatizações resultam em mais sofrimento psicológico

Confira alguns fatores dos processos de fusão, falências, incorporações e privatizações que agravam as doenças e desgaste psicológicos:

·    Pressões para adesão a PDV, visando ao enxugamento do quadro de pessoal
·    Piora das condições de trabalho
·    Metas de produtividade muito elevadas e difíceis de serem alcançadas
·  Humilhação e constrangimento do trabalhador em discussão pública de metas
·    Preconceito entre bancários de instituições diferentes que se fundiram
·   Assédio moral: perseguições e pressões por diferentes razões
·    Diversificação e intensificação do trabalho do bancário
·    Falta de reconhecimento do trabalho
·    Ameaça constante de desemprego
·  Mudanças nos PCS prejudicando antigos em relação a novos profissionais 
·   Competição exagerada com antigos colegas para “bater metas”
·    Carga excessiva de responsabilidade e de pressão
·   Clima de perseguição estimulado pela competição entre pares
·    Exigências das chefias para práticas antiéticas para venda de produtos que não beneficiariam os clientes (sofrimento ético)

Fonte: http://www.bancariosrio.org.br

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