Policial vítima de racismo sofre depressão

Mulher xingada de "macaca" no estacionamento de supermercado em Sorocaba não esquece o trauma Tatiane Patron

Antidepressivo e afastamento do trabalho são as sequelas que estão na vida da policial militar Meire Aparecida Barbosa, 45 anos. Em 7 de setembro, ela foi chamada de “macaca” pelo pintor Flávio Aparecido Alexandre, 42, no estacionamento de um supermercado  no Centro de Sorocaba.

Após mais de um mês do ocorrido, Meire procurou seus direitos para entrar com um processo administrativo contra o agressor.

Já Flávio aguarda ser intimado, mas afirma que não teme pelo o que pode ocorrer. “Só não quero voltar para atrás das grades.”

O caso de injúria de racismo ocorreu quando ambos disputavam uma vaga no estacionamento de um supermercado. Na ocasião, o  pintor chamou a policial, que estava de folga, de “macaca”.

Ele repetiu a ofensa diversas vezes até a Polícia Militar chegar  e levá-lo à  delegacia, onde ficou preso. No dia seguinte, o pintor foi  liberado após pagar fiança no valor de um salário mínimo (R$ 622). “Consegui uma advogada, paguei R$ 1 mil para que ela atendesse o meu caso.

Não tinha dinheiro, só uma pequena economia”, conta o acusado.
Cássia Almagro Mezzomo, delegada que atendeu o caso, tinha estipulado o valor de cinco salários mínimos, mas a advogada de Flávio entrou com recurso e conseguiu reduzir o valor.

Antes da acusação de injúria de racismo, Flávio já tinha passagem pela polícia. Ele ficou preso por oito anos por tráfico de entorpecentes e ato libidinoso. “Me arrependi de ter ofendido ela [a policial]”, afirma. “Pago em serviço comunitário pelo que fiz, mas não quero ser preso novamente.”

Trauma/ Meire ficou 15 dias afastada do serviço. “Apesar do apoio das pessoas, aquela cena horrível não saia da minha cabeça.”

A vítima passa por avaliação psicológica e está tomando antidepressivos desde o ocorrido. Ela procurou a Comissão de Igualdade Racial da OAB  para dar entrada no processo contra Flávio.

O presidente da entidade, Wesley César Sabino Braga, explica que neste tipo de processo, acompanhado pela Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania, a indenização é por danos morais. “A comissão existe para auxiliar as vítimas de preconceito. O que a Meire fez é um exemplo. Todo cidadão deve lutar pelos seus direitos”, recomenda.

Flávio vai responder por injúria,  pois feriu a dignidade. Já o crime de racismo é mais grave, quando a pessoa é impedida de entrar em um  estabelecimento, por exemplo. É inafiançável e há reclusão.

5 casos de injúria de racismo ocorreram desde maio, quando a comissão foi criada

Outro caso
Em maio de 2011, a cabeleireira Vera Maria da Silva sofreu preconceito racial após uma briga de trânsito próximo ao seu salão. Um idoso bateu o carro na traseira de outro veículo. Os condutores começaram a discutir e a cabeleireira foi interceder. Neste momento, ela acabou  xingada e humilhada pelo homem que teve o carro batido. O agressor foi detido.

Apoio
Quem sofrer  preconceito deve procurar a OAB, pelo telefone (15) 3228-1134.

Jornal Rede Bom Dia

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